APARIGRAHĀ - NÃO POSSESSIVIDADE
- Juliana Figueira
- 30 de ago. de 2016
- 2 min de leitura
Aparigrahā é a virtude da não possessividade, é a capacidade de lidar com a ganância humana e os apegos da vida. Não se trata apenas de não possuir, mas de possuir sem apego. A possessividade — seja em relação a um objeto, bens materiais ou até mesmo a pessoas e situações — é um estado da mente no qual nunca nos sentimos verdadeiramente seguros e satisfeitos. É uma condição humana em que nos sentimos desamparados e incompletos e passamos a acreditar que a posse de coisas, pessoas ou situações nos trará a tão desejada felicidade e paz de espírito.

Com isso, projetamos nossa felicidade no acumulo de coisas e na satisfação dos nossos desejos, sem nos darmos conta de que satisfazê-los não nos preenche realmente. Logo que se alcança o que se desejou, nasce outro desejo, e assim permanecemos num ciclo sem fim.
Deste modo, em nossa tentativa desesperada de preenchimento e completude, quebramos as regras do dharma. Quando passamos a acumular mais do que precisamos, estamos desequilibrando a ordem da vida, pois os recursos são limitados e, ao acumular mais do que precisamos, estamos também tirando a oportunidade de alguém usufruir destes recursos (asteya).
Consequentemente, a possessividade gera a ganância; quanto mais inseguros nos sentimos, mais desejamos acumular. Portanto, desenvolver aparigrahā é sentir-se satisfeito com o que se tem e compartilhar os recursos para que todos estejam supridos e nutridos. É reconhecer a generosidade da vida e a consciência da abundância.
À medida que passamos a compreender que tudo no universo é compartilhado em algum nível, que não somos separados das pessoas, da natureza, do mundo, a identificação com a propriedade pessoal começa a ser dissolvida.
Aparigrahā é compreender a impermanência da vida. Nada é fixo, nada é permanente. Como nossa própria respiração, a todo momento nossos pulmões liberam o ar para dar lugar a um novo fôlego de vida.
Quando pensamos em aparigrahā enquanto prática de yoga, dissolvemos a ideia de “minha prática”, “minhas posturas”, “meus benefícios”, e passamos a cultivar o valor da prática para o Todo, e entendemos que a prática de yoga é universal por natureza. Dessa forma, estamos sempre praticando com todo o universo e entregando os benefícios para todo o universo, que somos nós mesmos.
Quando compreendermos o sentido de aparigrahā, perceberemos que há somente um yogui e uma prática de yoga e que os méritos desta prática se estenderão a todos os seres.
Harih Om!
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