A ILUSÃO DO CONTROLE
- Juliana Figueira
- 24 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Gostamos de acreditar que estamos no controle da vida. Isso gera em nós uma sensação de autossuficiência e, por conseguinte, acreditamos estar num patamar além do “caos” e da “desordem” do Universo. Estar sob o controle nos faz pensar que podemos vencer os imprevistos e manter as coisas conforme nossas expectativas.

Contudo, o yoga nos esclarece que esta sensação de controle instigada pelo ego é ilusória. Nossa subjetividade individual é formada por um complexo chamado antarkāraṇa (antarkaarana), constituído por quatro funções mentais, sendo elas: manas, emoções e pensamentos oscilantes; buddhi, pensamento de afirmação, de entendimento e intelecto; chitta, memória emocional; e, finalmente, ego, ahaṃkāra, responsável pelo conceito de eu, pela formação da entidade individual.
O ego é, portanto, esta parcela da mente que assume o papel do controlador. Ele pensa estar no controle das situações e de si mesmo. Isso nos leva a crer numa falsa ideia de controle. Digo falsa porque, em certa medida, até temos domínio sobre algumas situações por meio de nossas escolhas e conhecimento, mas na maioria das vezes não.
Já parou para pensar que dificilmente controlamos nossas emoções? Geralmente não controlamos o fato de amar ou não amar uma pessoa. Isso simplesmente acontece ou não acontece.
Honestamente, percebo que, na maioria das vezes, as emoções regem nossas ações sem que ao menos consigamos racionalizar sobre isso. Quantas vezes já tomamos uma atitude baseada nas emoções e só a percebemos muito depois que a emoção tomou controle da situação? Quantas vezes já não explodimos de raiva, perdendo completamente o controle, e depois nos arrependemos de atitudes e palavras proferidas no momento da raiva?
Assim, como não controlamos nossas emoções, tampouco temos controle sobre nossos pensamentos. Nossa mente pula de um pensamento para outro, num fluxo livre de associações, sem que ao menos percebamos. Quantas vezes nos parece uma tarefa hercúlea manter a mente concentrada e simplesmente focar num único pensamento ou objeto?
Logo, se é ilusória a ideia de ter controle sobre nós mesmos, sobre nossas emoções e pensamentos, o que dirá sobre as situações externas? Pensamos estar no controle de nossa vida, nosso trabalho, nossa família, nossa saúde, nossas relações, mas assim como não controlamos nossas emoções e pensamentos, também não controlamos todo o resto.
Uma outra ilusão de controle é sobre a natureza. Achamos que, por conta de nossos avanços tecnológicos, podemos prever os fenômenos naturais, e isso nos dá uma sensação de “domesticação da natureza”. Sem dúvida, a ciência consegue compreender e manipular eventos isolados, mas, quando consideramos que esse entendimento não abrange a complexidade do funcionamento do universo, seu encadeamento de causas e consequências a longo prazo, nos vemos mais uma vez diante de uma total falta de controle, e tudo não passa de mera especulação.
Compreendendo isso, Goethe disse: "A natureza reservou para si tanta liberdade que não estamos em condição de competir com ela em toda sua extensão ou de acossá-la com nosso saber e nossa ciência". Diante da constatação da fragilidade humana, muito mais do que perceber que não compreendemos o Universo é perceber que não compreendemos a nós mesmos,
Gastamos muito esforço e tempo buscando controlar a vida quando deveríamos tentar compreender não só a ela, mas a nós mesmos. E compreender a vida não significa se resignar aos acontecimentos, mas distinguir aquilo que pode ser manipulado e transformado daquilo que simplesmente é e está além dos nossos esforços. A compreensão nos liberta da necessidade de controle e nos leva a lidar melhor com as situações conhecendo suas infinitas possibilidades.
Com isso, reconhecemos que há uma Inteligência Maior que rege a engrenagem da existência e passamos a nos relacionar com esta, desenvolvendo uma conexão espiritual com a vida, com a natureza, com as pessoas e com nós mesmos através da sabedoria, reverência e aceitação.
Esse é o caminho proposto pelo yoga, a compreensão de que fazemos parte de uma engrenagem maior e que não depende apenas de nossos esforços e vontades. E, por meio desta compreensão, simplesmente deixamos de tentar controlar a vida, findando a infelicidade e a insatisfação.
Por isso, nossos esforços devem estar direcionados não ao controle, mas às escolhas. Escolher o melhor caminho, o mais justo, o mais adequado, livre de expectativas e aberto às infinitas possibilidades.
Harih Om!
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