MEDITAR NÃO É PARAR DE PENSAR
- Juliana Figueira
- 25 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
Muitas vezes, ao iniciarmos o caminho da meditação, nutrimos a crença de que meditar seja parar de pensar. Talvez isso ocorra porque temos acesso a interpretações distorcidas em relação ao processo meditativo. No entanto, com pouco tempo de prática, percebemos que este estado de mente vazia, sem pensamentos, é quase impossível de se alcançar, e acabamos nos frustrando, considerando-nos inaptos para a meditação.

Frustramo-nos porque parar de pensar não é um estado natural da mente. A mente é composta por pensamentos e associações livres, e não há nada de errado nisso. Ao direcionar nossa energia na tentativa de parar de pensar, estamos negando a natureza intrínseca da mente. Quanto mais nos esforçamos para parar de pensar, mais a mente se agita e somos bombardeados por um fluxo de pensamentos ainda mais frenético.
Cabe lembrar que o próprio Swāmi Vivekānanda, um dos maiores mestres contemporâneos do Yoga, confessou em carta a um discípulo que, depois de décadas e décadas de esforço, apenas conseguiu deixar a mente vazia de pensamentos em duas breves ocasiões. Isto é, talvez a grande questão não seja sobre nossas limitações enquanto meditadores, mas sim sobre a interpretação distorcida de que meditar é parar de pensar.
Contudo, suponhamos que realmente fosse possível parar de pensar e esvaziar completamente a mente, o que isso nos traria enquanto paz, autoconhecimento ou felicidade?
Se pausássemos os pensamentos, mesmo que temporariamente, isso talvez até gerasse uma sensação prazerosa, mas ainda assim seria algo impermanente, como tudo na vida. E logo os pensamentos retornariam a fluir com a mesma força de antes.
Alguns podem considerar que a obtenção da mente vazia ou em branco nos leve à possibilidade de enxergar o Eu Maior (Ātman), mas a verdade é que não é necessário esvaziarmos a mente para experienciar o Ser, pois ele está para além da mente e, portanto, presente mesmo com os pensamentos: “os pensamentos vêm, o Ser é; os pensamentos vão, o Ser é”.
Portanto, parar de pensar não pode ser o objetivo, a finalidade ou mesmo a consequência da meditação. Precisamos, acima de tudo, refletir sobre o propósito desta. Por que e para quê meditamos?
Em essência, somos o grande observador da própria mente e, para isso, é necessário que haja pensamentos para direcionarmos a atenção a eles. O ponto está na qualidade destes pensamentos.
Observar a manifestação natural da mente — desidentificando-nos das reações emocionais que um pensamento gera — é a verdadeira libertação. Podemos observar a mente tal qual ela é. E ao notarmos qualquer sensação inadequada diante do fluxo de pensamentos, redirecionamos a mente para um outro objeto que nos traga paz e equanimidade, como a respiração por exemplo. Focando nossa atenção em um único objeto, percebemos que, naturalmente, a mente se acalma e os sentimentos entram em suspensão.
Ou seja, não há necessidade de brigar com a mente. Pense nela como uma criança carente de atenção. Quando uma criança age de forma inadequada, brigar, gritar, se zangar com ela ou tentar calá-la não resolve o problema; ao contrário, pode torná-la ainda mais rebelde. Mas quando a tomamos pelas mãos com carinho e redirecionamos seu comportamento para algo mais construtivo, ela se torna mais calma, segura e confiante.
Com a mente é a mesma coisa. Por isso, neste momento, proponho um breve exercício: Sente-se de forma confortável, com a coluna ereta e faça algumas respirações profundas. Sinta o fluxo do ar passando por suas narinas, consciente do ar que entra e do ar que sai. Observe o comportamento de sua mente neste exato momento. Perceba simplesmente se a mente está agitada ou tranquila. Procure não reter nenhum pensamento, tão pouco repelir algum pensamento. Deixe que eles se manifestem naturalmente. Observe como eles surgem e como eles se dissolvem, se eles te causam alguma sensação.
Se notar alguma sensação, seja boa ou ruim, volte a atenção à sua respiração. E continue apenas observando... Parabéns, você acaba de dar os primeiros passos na meditação. Boas práticas!
Harih Om!
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